Apresentando obras de temática erótica dos artistas paulistanos Hudinilson Júnior(1957-2013), Sidney Amaral (1973-2017) e do carioca Luiz Sisinno (1972). A exposição sugere, como outras antes o fizeram (não sem polêmicas e censuras), que o sexual não só é um assunto antigo nas artes visuais, quanto os modos de tratá-lo são também diversos e variam social, cultural, historica e individualmente.
Cada qual a seu modo e desejo, esses três artistas apresentam 26 obras, soluções inventivas, engraçadas, arrojadas e saborosas. Confecionadas em cerâmica, papel, madeira, plástico, pedra, metal o conjunto amplia as possibilidades de entendimento acerca da diversidade da satisfação sexual e, mais ainda, do prazer proporcionado pelo contato com os objetos artísticos.
Hudinilson Júnior, em sua investigação do mito grego de Narciso, levou o tema a suportes inesperados: uma tampa de vaso sanitário (2006), e um prato de cerâmica (2011). Interessado tanto em seu próprio corpo quanto no corpo de outros homens, o artista mostra seis obras em xerox e nanquim (1981), todas em molduras feitas por ele mesmo, pertencentes à série Exercícios de me ver. Se esse conjunto fala de si, no Caderno de referências no 97 (2007), o que interessa são os outros. Criados a partir da coleta de revistas e jornais que encontrava no lixo, os cadernos revelam sua obsessão em dois sentidos: arquivador — quando reúne e acumula — e arquivista — quando organiza e dá sentido aos guardados por meio da montagem metódica que aproxima imagens de origens bastante diversas.Daí a justaposição de sensualidade, violência, marketing e morte em uma mesma superficie.
Sidney Amaral, artista de múltiplos interesses e inquietações criativas, também abordou a sexualidade em obras como O seringueiro e a história do Brasil II (para Debret) (2013), um autorretrato no qual ele reflete sobre os limites entre as noções de pessoa e coisa: do corpo do seringueiro sai a borracha em uma confusa operação que mistura tatuagem e à extração da matéria prima. Essa reflexão sobre coisa e pessoa emerge também em trabalhos como Abraço (2016), em que dois barbeadores sugerem a intimidade cotidiana de um casal, e Cálice (2012), onde um taça incorpora as formas do ânus e da vagina, resto de corpo e objeto utilitário. Em Sem título (2012), uma faca de bronze é apoiada sobre um saco escrotal o que lembra um canhão de geurra pronto para o ataque.
Luiz Sisinno, por sua vez, recorre à colagem de modo distinto de Hudinilson, interessando-se por uma espécie de “educação sentimental”. Ao apropriar-se de revistas infantis como Disneylândia (Editora Abril, anos 1970), ele sobrepõe às suas páginas imagens masculinas extraídas de pornografia gay. As obras Veja como é fácil 1, 2 e 3, Série Disneylândia (2022) contrapõem dois universos inalcançáveis: a fantasia infantil de viver a Disney sem limites e o desejo pelo corpo bem acabado do adulto de revista. As personagens da Disney reaparecem em colagens como Donald & Mickey (2023) e Pinóquio, agora em diálogo com fotografias em preto e branco de jovens nus do início do século XX. Na obra Sem título (2021), um boneco articulado em papel, construído com páginas de classificados da revista gay Suigeneris que circulou nos anos 1990, evoca tanto o processo psíquico de montagem de um “tipo ideal” de homem, quanto o aspecto lúdico da manipulação dos desejos sexuais.
Essa exposição não seria possível sem o empréstimo das obras de Hudinilson Júnior e Sidney Amaral por parte do colecionador Mário Loureiro. A ele agradeço a gentileza de me receber mais de uma vez em sua casa, contar um pouco da historia de sua coleção e emprestar material de pesquisa.
Quanto a obra de Luiz Sisinno, eu a conheci na exposição, resultado do 1o edital Arte Leve. Obrigado Luiz por aceitar participar de Indiscretos. Finalmente, agradeço ao convite de Yara Dewachter para assinar a curadoria deste projeto e à equipe que trabalha na Casa Yara DW: Mel, Luis Napoli, Vilmar Gomes. Finalmente agradeço ao Renan Quevedo pela montagem e diálogo que tivemos no processo de instalação das obras.
Alexandre Araujo Bispo – Curador
Hudinilson Júnior, Sidney Amral e Luiz Sisinno.