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Quem curtiu compartilha e deixa o seu like

Sobre a exposição

No imersivo universo das timelines, diariamente, nos deparamos com incessantes ofertas ao olhar e ao desejo. Entre narcísicas selfies e previsíveis paisagens, buscamos um mísero estímulo que seja digno do curtir e do compartilhar. Desbravando esta selva digital de tantos iguais, Charles Cunha, artista que vem ganhando notoriedade entre um público jovem nas redes sociais, emoldura instantes de memes e webcelebridades que hoje representam uma determinada cultura de corpos e vivências avessos à normatização, revestindo de afeto o que é, muitas vezes, tido como abjeto em meio à padronização.

 

As obras selecionadas para esta primeira exposição individual do artista desenvolvem uma certa poética do print: congelando um frame e o levando à pintura, Charles Cunha faz do efêmero o contemplativo, capturando a estética e a ética de ícones imagéticos em sua crua configuração. Não se pousa, nem se idealiza: o pintor busca, entre os vídeos que consome e printa, o segundo precioso em que o mínimo gesto se torna a máxima expressão tanto da essência do que vê quanto do que dele, enquanto sujeito, se projeta no objeto visto.

 

Ao fim e ao cabo, o trabalho de Charles Cunha também opera sobre as máscaras e os filtros que nos mediam nas plataformas, como nos autorretratos em que seu rosto se transforma em um unicórnio, símbolo queer de uma geração que rejeita qualquer norma. Tão livre quanto as fugazes personas que escolhe eternizar, seu traço é alheio a convenções pictóricas e cabe justamente às dinâmicas que o atravessam, sendo rápido e, às vezes, intencionalmente deformado, como a traduzir as vicissitudes da imagem digital que, espontaneamente, curtimos e compartilhamos.

 

Renato Gonçalves, pesquisador e professor

Artista

Charles Cunha